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sexta-feira, 26 abril, 2024

Tarcísio, o velho leão, ainda ruge e é referência | Confira a entrevista

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Não há no meio jurídico alguém que não conheça o advogado Tarcísio Germano de Lemos. Fora desse meio também. Além de advogar, ele foi vereador, presidente da Câmara, vice-prefeito, presidente do Aeroclube de Jundiaí, comandante da Guarda Municipal, secretário de Educação e de Negócios Jurídicos da Prefeitura e professor de Direito durante 20 anos e três vezes presidente da OAB local.
Sua passagem pela política local deixou marcas. Orador brilhante, fez das suas na Câmara – a ironia era sua arma. E foi Tarcísio o responsável por Jundiaí ter um hino oficial e uma bandeira. Também é dele o Planidil (Plano de Incentivo à Industrialização), que criou o Distrito Industrial de Jundiaí, em 1970, trazendo para a cidade as primeiras indústrias importantes.
“Quando o Walmor Barbosa Martins foi eleito prefeito, em 1968, fui eleito como seu vice. Conversamos e vimos que as indústrias tradicionais estavam fechando, e que precisávamos gerar mais empregos. Resolvemos criar o Planidil, e fiquei responsável por ele”, conta o advogado.
Sem muito dinheiro, a prefeitura desapropriou uma área ao lado da atual rodovia Dom Gabriel. “Era um verdadeiro charco, e essa área foi destinada às grandes. Outra área, onde está a marginal da Autoban, foi destinada às médias e pequenas. É onde está hoje a Vinagre Castelo’, explica Tarcísio.
O primeiro trabalho foi distribuir revistas, em português e inglês, para os escritórios comerciais das embaixadas. Até que um dia apareceu na prefeitura, que funcionava na rua Barão de Jundiaí, um grupo de japoneses. Problema: era feriado na cidade. Tarcísio foi chamado, abriu a prefeitura, e chamou o fotógrafo Paulo Furuta para servir de intérprete. “Foi a primeira a se instalar em Jundiaí dentro do Planidil – conta ele – e os japoneses trouxeram para cá a Kanebo”.
Mas foi na Câmara que Tarcísio fez história, seja pelo uso da tribuna seja pelas ironias. Quando vereador, aliava-se a Walmor, na época também vereador, para criticar a prefeitura. Uma das críticas era sobre um terreno que não era limpo há tempos. E numa das sessões os dois levaram uma cobra, já morta, dentro de um saco de cimento. Enquanto Walmor usava a tribuna (também bom orador), Tarcísio jogou a cobra no plenário. Fim de sessão.
Noutra ocasião, dirigiu-se a outro vereador, Duílio Garbati, enquanto declamava uma poesia de Cornélio Pires. Problema: Duílio Garbati, simples e de poucas letras, costumava ter um revólver na cintura, que chegou a ser apontado. “Depois conversamos, e expliquei que a história do boi bernento e sapiquá de lazarento era da poesia”, diz Tarcísio.
Fora da Câmara também havia brincadeiras. Frequentador da Praça Governador Pedro de Toledo (a praça da Matriz) no tempo em que se podia conversar, Tarcísio resolveu “oficializar” a condição de outro frequentador, uma figura folclórica que se achava agente secreto. Solenemente o nomeou e lhe colocou uma estrela de xerife, que vinha junto com um brinquedo da época, fabricado pela Estrela.
Na vida pessoal também está realizado. Está cheio de condecoração e é até Cidadão de Trenton (Estados Unidos). Nascido em Tietê, também se tornou Cidadão Jundiaiense. Viúvo há cinco anos de Therezinha formou uma família de advogados: dos filhos (Tarcisinho, Marco Aurélio, Lia Valéria, Jorge e Maria Elisa) só um seguiu outro caminho – é mestre de Capoeira. Com os filhos, divide o escritório.
Já tem três netos advogados, e oito sobrinhos na mesma profissão. E como advogado Tarcísio também fez história. Ou melhor, continua fazendo. Participou de mais de mil júris, em todo o Brasil, e nunca perdeu um sequer. Conseguiu absolver um carroceiro que havia matado um valentão usando uma lista telefônica. Defendeu o japonês, gratuitamente, que matou o primeiro prefeito de Campo Limpo, Adherbal da Costa Moreira.
“Naquele tempo a justiça gratuita era gratuita mesmo, conta ele. O juiz nomeava advogado para quem não podia pagar. O promotor queria 30 anos de cadeia para o japonês, ficamos nos quatro, uma absolvição”.
Mas no Fórum também brincou. Durante um julgamento, promotor e um advogado assistente de acusação citaram inúmeros pareceres jurídicos tentando condenar o réu. Um dos juristas citados tinha o sobrenome Luchini – o que remeteu jurados e público ao tradicional vendedor de carros de Jundiaí. A gargalhada foi geral.
Foi então que Tarcísio foi mais longe. Criou um parecer, citando como autor Giandomenico Buccianti e sua obra “La Buggia Che né la Gambia Piccola” (coisa que nunca existiu). Mais gargalhadas e um réu absolvido. Giandomenino era o dono do restaurante Chácara das Carpas, e entrou para história (ou folclore) forense.
Hoje ele tem outras preocupações. A Educação, por exemplo. “Caiu muito o nível. Em meu tempo, se estudava Latim, Francês, Inglês, se aprendia poesia, literatura. Hoje há professores despreparados e mal pagos, a consequência é isso”.
Fala também sobre a situação das famílias. “A educação familiar não é a mesma. A família desapareceu, as crianças ficam nas ruas, nas creches ou nas casas das avós, pois os pais precisam trabalhar”. Sobre política, decepção total.
“Hoje dá vergonha de ser político. Fico pensando nos netos e bisnetos, sobre o que terão no futuro, que tipo de país e cidades encontrarão”, lamenta. Sem senões, diz que se tivesse de escolher uma profissão nos dias de hoje, seria novamente advogado. “Não me arrependo, faria tudo novamente, porque gosto do que faço”.

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