Jundiaí, como algumas cidades paulistas, tem sua avenida Nove de Julho, data da eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932. Mas, nos anos 1970, quando foi anunciada sua construção, sobraram críticas para o então prefeito Ibis Crutz. Chegaram a dizer que a avenida ligaria o nada a lugar nenhum.
Metro quadrado mais valorizado de Jundiaí, a Nove de Julho é hoje importante centro comercial e palco de comemorações. Tem tráfego intenso a qualquer hora e é considerada uma espécie de avenida Paulista. O pai da criança é o ex-prefeito Ibis Pereira Mauro da Cruz, eleito em 1972 e empossado no dia 31 de janeiro do ano seguinte.
“Quando assumi a prefeitura, formei uma equipe de primeira linha, lembra o ex-prefeito. Trouxe o Helly Lopes Meireles, até hoje uma referência nos meios jurídicos, o Cândido Malta, o maior urbanista do Brasil, o Fernando Ribeiro do Val, para cuidar das finanças, e a empresa Sotaffe, indicada pelo prefeito paulistano Faria Lima”.
Com a equipe, Ibs fez o planejamento viário da cidade, buscou financiamento no governo federal e iniciou as obras. Construiu as marginais do Rio Jundiaí (avenida Frederico Ozanam), as avenidas 14 de Dezembro, a dos Imigrantes e a Nove de Julho, que deu mais barulho.
“A cidade toda era de paralelepípedo ou ruas de terra – conta Ibis – e resolvemos levar o asfalto até onde era possível. Mas a Nove de Julho foi a que mais críticas recebeu. Fundaram até um jornal, que saía durante todas as semanas, e cada oito páginas, dez eram de críticas, principalmente à nova avenida”.
No dia 10 de setembro de 1975 Ibis entregou o primeiro trecho, que ia da avenida Jundiaí até a Vila Lacerda. Em abril do ano seguinte, o segundo trecho, da avenida Jundiaí até a Via Anhanguera, onde hoje está a Estação Rodoviária. Ibis não conseguiu eleger seu sucessor, e o ritmo das obras diminuiu.
Quando as avenidas foram construídas, a Andrade Gutierrez, empreiteira que ganhou a concorrência, trabalhava 24 horas sem parar, com 1.200 operários. “Além das avenidas, asfaltamos o centro da cidade numa noite de sexta para sábado”, conta Ibis.
“O jundiaiense tomava ônibus na praça da Matriz, lembra o ex-prefeito, da Viação Cometa ou do Expresso Brasileiro. Montamos a Estação Rodoviária na Praça das Bandeiras, onde hoje está o terminal Central. Para isso, mandei cortar duas figueiras. Quase fui crucificado por causa disso. Mas, para compensar, mandei plantar 100 árvores, e a praça hoje é a mais arborizada da cidade”.
Na época, já se previa a saída dos ônibus da Praça das Bandeiras pela Nove de Julho, em direção à Anhanguera. A Bandeirantes viria anos depois. Mas não foi a Nove de Julho a marca de Ibis. “Quando cheguei à prefeitura havia um médico, sem consultório, e uma ambulância. Construí 14 unidades de saúde, contratei 70 médicos e comprei 14 ambulâncias”, lembra.
Não ficou por aí. “Naquela época a mortalidade infantil em Jundiaí era igual à do Nordeste. Fomos buscar água no Rio Atibaia, a 39 quilômetros, construí 13 reservatórios e dobrei a capacidade de tratamento da estação do Anhangabaú”, conta Ibis.
Mas a Nove de Julho marcou. Pela ousadia, pela novidade – foi a primeira a ter toda a rede elétrica subterrânea, a primeira a ter emissário de esgoto. “Antes, todo o esgoto do Centro e do Anhangabaú era jogado no Córrego do Mato, que está no meio da avenida. Aquilo fedia”, lembra ele.
E por que o nome Nove de Julho? “Sou de uma família de políticos, e a data é a mais importante, em termos de civismo, do Estado. Além disso, tenho dois irmãos que foram voluntários nessa revolução” – finaliza Ibis