Quando o tamanho é documento

Quando os fabricantes de carros inventaram a caminhonete a idéia era simples: dar aos agricultores, principalmente, um caminhão em miniatura para transportar porcos, galinhas, sacos de fertilizantes e as entregas de suas pequenas safras. Com o tempo, ter caminhonete passou a dar algum status dentro das cidades.
Agora virou loucura. Basta ver o tamanho das caminhonetes andando nas cidades, ocupando vagas demais, espaço demais e transportando gente de menos. Não se vê caminhonetes transportando porcos ou galinhas – a norma é uma grandona, com um só ocupante, com a caçamba vazia e com a lataria e pintura brilhando. Caminhonetes que nunca viram um metro de terra. Com algumas exceções.
Junto com as caminhonetes apareceram as SUVs, enormes também. As SUVs custam uma fortuna não por causa dos impostos – as fábricas sabem que brasileiro é trouxa e paga pelo status. Algumas poderiam custar metade do que custam.
A maioria das SUVs é pilotada por mulheres, nem sempre tão habilidosas como seria desejado. Basta ver estacionamentos de shoppings e supermercados para constatar que há SUVs ocupando duas vagas. Ou que a hábil motorista, habilitada logicamente, tem alguma dificuldade para manobrar o monstrengo.
Juntas, caminhonetes e SUVs, entopem ruas, vagas e estacionamentos. Desnecessariamente. Sempre estão ocupadas somente pelo motorista. Tem mais de um quando estão nas portas de escolas, outro inferno para o trânsito.
Juntas também ajudam caminhões de todos os tamanhos e os ônibus, de linha e fretados, complicar ainda mais o ir e vir de outros motoristas. Alguns abusam do tamanho e não hesitam em forçar passagem nem a pressionar por mais velocidade, principalmente nas descidas.
Diz a lenda que a mulherada gosta de SUVs porque são altas, grandes e dão sensação de segurança. Mas é bom lembrar que para dirigir um carro maior, como caminhonete ou SUV, são precisos treinamento, prática, habilidade. Só a CNH não basta.
Agora um balanço de nossas ruas: ônibus, caminhões gigantes, caminhões pequenos de entregas, SUVs, caminhonetes e uma molecada que pensa que sabe dirigir. Quando há acidentes, o primeiro culpado é o álcool. Mentira. O primeiro culpado é o telefone celular, usado sem escrúpulos por homens e mulheres. Gente que não consegue ficar um minuto longe do Facebook.
Do jeito que as coisas andam, logo haverá gente dirigindo Hummers por aí. São aqueles jipes militares blindados, usados pelos americanos nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Com eles, é possível passar por cima de carros pequenos, bater à vontade, sem risco de ferimentos. Basta fazer seguro.
E agora a cereja do bolo – a maioria das caminhonetes e SUVs tem engate para carreta na traseira. Engate de araque, ilegal, não ligado a nada. Serve apenas para encostar nos demais sem prejudicar sua preciosa e lustrosa pintura. E sabe o que acontece? Ninguém fiscaliza.
Anselmo Brombal