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sexta-feira, 26 abril, 2024

1964: Ouro para o Bem do Chatô

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Em junho de 1964, eu fui com o meu pai entregar um anel de ouro e rubi e duas alianças de seu casamento para os militares que recolhiam as doações numa bandeira do Brasil, estendida em frente ao Museu Histórico da rua Barão de Jundiaí, SP. Era a campanha do Chatô: Ouro para o Bem do Brasil. Quem dava ouro, ganhava um anel de latão. Vi pais e mães de muitos amigos também depositando no pavilhão verde e amarelo suas esperanças de um Brasil melhor. Não sei até hoje o que foi feito com o montante de ouro que chegou a uma tonelada e meia só em São Paulo, nem com o dinheiro, pedras preciosas e até veículos que foram doados em muitas cidades do Brasil. Você, que não caiu nessa, nem deu ouro (ou nunca foi enganado pelo governo), pode comprar o antigo anel de latão desta campanha em algum sebo ou pela internet, por 80 e poucos reais.

Na antiga revista O Cruzeiro, naqueles dias, reportagem de capa manchetava o Ouro para o Bem do Brasil. Nas internas, um balancete parcial da campanha informando que mais de 400 quilos de ouro e cerca de meio bilhão de cruzeiros haviam sido doados pelo povo e por autoridades em menos de um mês. A revista informava que“a campanha, primeiro grande movimento dos ‘Legionários da Democracia’, foi aberta com a presença do senador Auro Moura Andrade, presidente do Congresso Nacional, que recebeu de Edmundo Monteiro, diretor-presidente dos Associados Paulistas, a chave do cofre em que será colocado o ouro e as doações em dinheiro que serão entregues, posteriormente, ao presidente da República, marechal Castello Branco”.  Hoje, vê-se que  a campanha do “Ouro para o bem do Brasil” foi um estelionato de amadores diante dos crimes revelados pela Lava-Jato.

Foi no 13 de maio de 1888, por meio da Lei Áurea, que a “liberdade” finalmente foi alcançada pelos negros no Brasil. Num outro13 de maio, 44 dias após o golpe militar de 1964, pouca gente se lembrou da Lei Áurea e dos escravos. Neste dia, o magnata das comunicações Assis Chateaubriand, o Chatô, e os Diários Associados lançaram uma campanha: Doe Ouro para o Bem do Brasil. A lei assinada pela Princesa Isabel aboliu a escravidão, mas os cofres das elites de Portugal e daqui já estavam abarrotados; o sangue e o suor dos negros haviam se transformado em ouro. A campanha do Ouro para o bem do Chatô, digo Brasil, há 55 anos foi golpe em cima de golpe (nada a ver com impeachment). Chegou-se a cogitar que a arrecadação de pequenas joias do povo somou duas toneladas de ouro; fora grana e outros bens doados.  O montante arrecadado jamais foi revelado, nem as obras, nem os bancos onde foram depositados. Ninguém sabe, ninguém viu. E as elites, os militares e a imprensa “chapa branca” cuidaram de calar a boca de quem tocasse no assunto.

Meus pais operários doaram o pouco que havia de ouro em casa. O povo ajudou o novo governo, de “ufanismo e salvação da pátria”, com doações de anéis, pulseiras e suado dinheirinho. Adhemar de Barros, governador de São Paulo, doou 400.000 mil cruzeiros. Isso porque ele não tinha ainda sido roubado por Dilma Rousseff, que levou o cofre de Adhemar na ditadura. O Rotary Club promoveu a Semana Cívica do Ouro. A indústria doou carros e caminhões; “socialites” e empresários davam cheques “sem fundo” e milhões eram depositados sobre a bandeira nacional. Em 15 dias, mais de cem mil patriotas doaram 400 quilos de ouro, meio bilhão de cruzeiros, centenas de automóveis.

Chatô, o “Roberto Marinho”da época ou o Cidadão Kane tupiniquim, era dono do império midiático, da TV Tupi, dos Diários Associados e de dezenas de jornais, revistas e estações de rádio pelo Brasil. Penso que ele não ficou com esse ouro todo. Chatô acabou tipo Lula: “nada era dele”. Chateaubriand “faliu” e morreu quatro anos depois. No velório, autoridades militares e eclesiásticas puderam ver dois quadros valiosos: um cardeal de Velázquez e um nu de Renoir. Chatô amava as artes (assim comoAdriana de Lourdes Ancelmo, esposa do corrupto Cabral, ama a corrupção e as joias). Nada de ouro no caixão, nada de joias na urna enterrada no cemitério do Araçá… Cadê o ouro? que ouro, cara pálida?

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