Até há alguns anos, o que um governo fazia tinha normalmente dois olhares na notícia – o oficial, ditado pelo governo, e algum contraditório da oposição. Considerava-se – e ainda considera-se – divergir do que é proposto por um presidente, um governador ou um prefeito. E normalmente, quem contradizia eram pessoas sérias e respeitadas, com embasamento suficiente para construir seus argumentos.
Hoje mudou tudo. Qualquer coisa tem dezenas, talvez centenas de opiniões. A maioria inconsistente e desprovida de qualquer fundamento. Vamos dar um exemplo: se o governador Fulano assinar um decreto proibindo uso de Melhoral, seja lá por quais razões forem, haverá a parte oficial. Fulano decreta o banimento do Melhoral.
Pior é o que vem depois. Certamente o laboratório fabricante irá contestar, alegar uma série de benefícios, e no fim lamentar a decisão. Mas virão ONGs, supostos especialistas e “líderes” para opinar contra ou a favor da medida. E pior ainda, é que a nossa imprensa, que está em cacos, vai dar espaço para tudo isso. Vai publicar opiniões absurdas, sem exercer o filtro do bom senso.
O Melhoral foi um exemplo. Mas tudo o que se fala ou faz hoje tem opiniões de “especialistas”, que variam de um pretendente a cientista até um youtuber ou um “influencer” insignificante. A própria imprensa tem seus editorialistas encarregados de colocar mais lenha nessa fogueira.
O resultado é o conhecido – desinformação. Basta ler e ouvir o que se publicou até agora sobre essa nova variante do coronavírus, a ômicron. De uma hora para outra todo mundo passou a entender a variante e apresentar soluções para combatê-la. Logo vai aparecer alguém aconselhado chá de determinada erva para a cura da Covid. E a gloriosa imprensa vai publicar. Para acabar com isso só existe um remédio – expurgo da imprensa. Jornalistas marca barbante precisam ser afastados das redações, e em seus lugares colocar gente mais séria, com caráter e com seriedade. São eles, os maus jornalistas, que criam o tumulto. Essa peneira é mais que necessária para devolver à imprensa a credibilidade que um dia já teve. Hoje está errando mais que astrólogos e outros advinhos.
ANSELMO BROMBAL – Jornalista