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sábado, 31 maio, 2025

“Igreja precisa mudar sistema que abusa das freiras”, diz autor de livro

Em certos mosteiros, conventos e comunidades religiosas da Igreja Católica, adorar e servir a Deus é sinônimo de humilhar-se e submeter-se aos desejos dos superiores, sem contestação. Principalmente se for uma mulher.

Mesmo para as freiras que têm graduação ou pós-graduação, ser um “servo do senhor” significa, frequentemente, realizar atividades serviçais como lavar roupa ou cozinhar, quando não limpar neve em temperaturas extremas ou ser discriminada por causa da cor de pele e origem.

A rotina de abusos de poder e assédios morais, manipulações e chantagens contra as mulheres que optaram pela vida religiosa é assunto que tem ganhado cada vez mais atenção das autoridades do Vaticano. Um exemplo é um livro que acaba de ser publicado na Itália, Il velo del silenzio (“O véu do silêncio”), cujo subtítulo é autoexplicativo: “abusos, violências, frustrações na vida religiosa feminina”.

O autor é o vaticanista Salvatore Cernuzio, de 34 anos, que acompanha os temas da Igreja em Roma há uma década. Jornalista que faz parte da Rádio Vaticana, órgão oficial da Santa Sé, ele passou um ano levantando os casos relatos no livro publicado pela editora católica San Paolo.

São onze relatos de mulheres, religiosas ainda na ativa ou que já abandonaram a vida consagrada, que contam anonimamente situações diversas de abusos cometidos pelas superioras, mulheres como as próprias vítimas, e os efeitos – inclusive psicológicos – dos anos de provação.

Com a chegada de papa Francisco, eleito em 2013, as mulheres ganharam protagonismo inédito no Vaticano, mas a estrutura servil continua ativa, em Roma e em diversos outros lugares do mundo, em especial naqueles em que a posição da mulher na sociedade continua em segundo plano.

O papa tem reservado especial atenção para falar sobre os casos de assédio moral e sobretudo dos abusos de consciência, como é chamada a violação do foro íntimo, ou seja, os segredos da própria consciência compartilhados com Deus e que muitas vezes acabam virando instrumento de chantagem nas comunidades religiosas.

“Chegou às minhas mãos o livro de Salvatore Cernunzio publicado recentemente sobre o problema dos abusos. Não os abusos escancarados, mas os abusos cotidianos que fazem mal à força da vocação”, disse o papa Francisco.

Para o vaticanista, um dos problemas está na formação das freiras, já que as madres responsáveis pelas congregações muitas vezes replicam a postura autoritária que as formaram.

Não à toa, muitas das ex-religiosas alvo de assédios e abusos comparam o sistema interno das comunidades católicas aos regimes comunistas ou ao Exército. Embora a formação das religiosas tenha sido discutida no Concílio Vaticano 2º, realizado nos anos 1960 para modernizar a Igreja Católica, pouco se avançou nesse sentido. “O problema é o clericalismo, ou seja, utilizar a superioridade em razão do cargo. Esse clericalismo foi incorporado por mulheres que são madres superioras ou que têm funções de poder. Não é tanto uma questão de gênero, mas de hierarquia”, comenta Cernuzio, que disse ter ficado horrorizado ao descobrir em Roma uma comunidade religiosa que atende mulheres marginalizadas, muitas delas ex-freiras que ficam desamparadas, sem dinheiro e sem documentos, após desertar da vida religiosa.

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