A morte de Mufasa em O Rei Leão (1994), clássico da Disney, permanece como um dos momentos mais traumáticos para muitas crianças que cresceram nos anos 90. Quando Scar empurra seu irmão do penhasco, acompanhado de uma despedida sarcástica — “Vida longa ao rei” — o público, assim como o jovem e vulnerável Simba, acredita que o carismático Rei das Terras do Reino foi perdido para sempre. No entanto, em Mufasa: O Rei Leão, o novo filme da franquia, a história do personagem é explorada desde sua infância, acompanhando sua jornada até se tornar o leão adulto que todos conhecemos.
A relação fraternal entre Mufasa e Scar, que no filme original foi brilhantemente interpretada por James Earl Jones e Jeremy Irons, é explorada e aprofundada neste novo filme. A vastidão das planícies africanas e os movimentos graciosos dos animais ganham vida por meio de CGI de última geração.
“Mufasa: O Rei Leão”, um prequel da versão live action de 2019 dirigida por Jon Favreau, apresenta Mufasa (Aaron Pierre) como um filhote órfão que encontra um irmão em Taka, o futuro Scar (interpretado por Kelvin Harrison Jr.). Juntos, os dois irmãos compartilham o desejo de encontrar um lar em um reino animal muitas vezes implacável e partem em uma jornada para formar seu próprio bando.
Responsabilidade
Dirigido pelo vencedor do Oscar Barry Jenkins (Moonlight, Se a Rua Beale Falasse), o mais recente filme da franquia O Rei Leão não apenas segue os passos dos filmes anteriores, mas também do famoso musical mundialmente aclamado. Para Barry Jenkins, O Rei Leão é tão significativo na cultura ocidental que, em entrevista à CNN, ele afirmou que, para muitas pessoas, o filme representa “a primeira ou principal conexão com o continente africano”.
Ao contar uma história que carrega “a voz do continente”, Jenkins ressaltou a “grande responsabilidade” envolvida nesse projeto.
Em Mufasa, o personagem de Rafiki assume um papel mais explícito como a voz da África — o sábio mandril cuja orientação molda várias gerações de leões nas Terras do Reino. Ele se torna o contador de histórias de um filme que, após os eventos de O Rei Leão, viaja de volta no tempo para explorar as origens de Mufasa.
O jovem Rafiki é interpretado pelo ator sul-africano Kagiso Lediga, que vê seu personagem como alguém que extrai sabedoria de toda a África. “Rafiki é um viajante”, afirmou Lediga, “um verdadeiro pan-africanista”.
“Enquanto você interpreta, fica pensando: ‘Mas Rafiki é suaíli? Ele vem do Quênia, é o cara do Serengeti?’. No entanto, eu sou Tswana, falo Sepedi, e tenho um pouco de Zulu e Xhosa também”, explicou o ator.
O Rafiki mais velho, no novo filme, é interpretado por John Kani, de 81 anos. “Sempre vi Rafiki como o guardião da cultura”, afirmou Kani. “Ele é um historiador. Qualquer pessoa na aldeia poderia perguntar: ‘O que aconteceu com Scar? E aquele evento?’ E todos responderiam: ‘Vá até o velho Rafiki; ele lhe contará.’”
História contada por gerações
Rafiki está envelhecendo em uma África que está mudando rapidamente, refletindo a realidade de seus habitantes humanos, que cada vez mais se mudam para as grandes cidades. “O desafio da África hoje”, disse o ator John Kani, “é a ausência dos avós na criação das crianças nas aldeias. As pessoas se mudam para grandes centros urbanos, deixam as aldeias, até migram para outros países. Quando as crianças voltam para casa, muitas vezes não conseguem nem falar as línguas indígenas. Os avós têm que recorrer a intérpretes para transmitir as histórias de origem e de onde vieram.”
É ao contar e ouvir essas histórias, explicou Kani, que alguém pode “se erguer com orgulho como africano”. O personagem de Rafiki, multilíngue, reflete a essência do filme de Barry Jenkins, com diálogos que incorporam Zulu e Suaíli. Segundo Lediga, isso se deve à “liberdade” que Jenkins deu para que ele falasse e improvisasse durante as gravações. Kani também elogiou o reconhecimento que Jenkins demonstrou, tratando-o “como um espírito criativo”.
“Há uma cena inteira no filme que criamos na hora”, revelou Jenkins. “Isso só poderia ter surgido a partir das experiências de John Kani no continente africano. Acho que estar aberto aos atores para que conduzam o processo de certa forma — especialmente os atores africanos, porque eu não moro lá e não conheço o lugar tão bem quanto eles — realmente ajudou a moldar o filme.”