Na última segunda-feira, 2, o médico veterinário e biólogo Jeferson Pires registrou uma cena alarmante: uma garça-moura (Ardea cocoi), a maior espécie de garça do Brasil, estava com um copo plástico preso ao pescoço, próximo ao Rio Morto, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O caso, compartilhado por Pires nas redes sociais com fotos e um relato detalhado, evidencia o crescente perigo do lixo descartado de forma inadequada para a fauna silvestre.
“Provavelmente ela morrerá de fome, já que o copo impede a ingestão de alimento. Isso é resultado da irresponsabilidade das pessoas no descarte inadequado de lixo”, afirmou Pires. Ele tentou resgatar a ave, mas ela voou para o alto de uma árvore antes de ser capturada.
A incerteza sobre a gravidade do dano levou o veterinário a adotar novas estratégias, conforme relatou a reportagem. “Usamos uma câmera 4K com um drone para capturar imagens e estamos investigando a possibilidade de haver um saco plástico fino preso ao pescoço dela, além do copo. Mudamos nossa abordagem e passamos a utilizar uma técnica chamada ceva: colocamos peixe em um local que ela frequenta regularmente. Assim que ela se acostumar, tentaremos montar uma armadilha para capturá-la”, explicou.
O drama da garça é apenas um exemplo do impacto devastador do lixo no meio ambiente. Segundo Pires, que trabalha há 20 anos com clínica e cirurgia de animais selvagens, os resíduos plásticos representam um problema grave. “Já removi sacolas plásticas, linhas de pesca e até uma cabeça de boneca Peppa Pig do estômago de um jacaré”, relatou.
Apesar dos avanços na medicina veterinária para animais silvestres, que aumentam as taxas de recuperação, os desafios persistem. “A cada dia evoluímos, mas o lixo continua aumentando aos poucos. São novos tipos de sacos, embalagens e produtos”, afirmou.