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sábado, 22 fevereiro, 2025

‘Estômago para sobremesa’: Por que o cérebro é viciado em doce?

Por mais que nos sintamos satisfeitos após uma refeição, sempre parece haver um espacinho para a sobremesa. Você já percebeu isso? O fenômeno popularmente chamado de “estômago para sobremesa” parece ser real, de acordo com um estudo recente.

Pesquisadores do Instituto Max Planck para Pesquisa do Metabolismo descobriram que, quando consumimos açúcar, um grupo específico de neurônios no cérebro é ativado, mesmo depois de estarmos completamente saciados. E o mais interessante: essa ativação libera uma substância opioide natural, gerando uma sensação de recompensa que nos impulsiona a continuar comendo doces.

“Até então, não se sabia quais eram os mecanismos que causavam o apetite por alimentos ricos em açúcar em estados de saciedade. Isso é o que nos motivou a iniciar essa pesquisa”, afirma Henning Fenselau, responsável pelo estudo publicado na revista Science.

Para entender a causa do “estômago para sobremesa”, os cientistas analisaram camundongos e descobriram que, mesmo estando saciados, os animais continuavam a comer quando tinham acesso ao açúcar — e a chave para isso estava nos neurônios POMC.

Henning Fenselau, responsável pela pesquisa, explica que, além de regular o comportamento alimentar, os neurônios POMC têm um papel crucial na regulação de diversas funções metabólicas, como os níveis de açúcar no sangue, a temperatura corporal, a pressão arterial, entre outras. Contudo, suas ações sobre a ingestão de alimentos são as mais significativas.

O estudo revelou que, ao consumir açúcar, os neurônios POMC liberam β-endorfina, um opioide natural do corpo. Esse composto ativa receptores no cérebro, proporcionando uma sensação de prazer e recompensa, o que incentiva o consumo de mais açúcar, mesmo após a saciedade. Quando os pesquisadores bloquearam essa via no cérebro dos camundongos, os animais pararam de comer doces além do necessário.

Exclusividade

“Nossas descobertas indicam que o mecanismo que identificamos é muito específico para alimentos ricos em açúcar, e não para outros tipos de alimentos. Por exemplo, verificamos que o consumo de alimentos ricos em gordura, que também ocorre em estado de saciedade, não é influenciado pelo mecanismo que descobrimos”, observa Fenselau.

Os cientistas também realizaram exames cerebrais em voluntários que consumiram uma solução açucarada. O resultado? O mesmo grupo de neurônios responsável pela saciedade foi ativado nos participantes, sugerindo que o cérebro humano reage ao açúcar de maneira semelhante ao cérebro dos camundongos.

“Do ponto de vista evolutivo, isso faz sentido: o açúcar era um recurso raro na natureza e fornecia energia rápida. O cérebro parece estar programado para incentivar seu consumo sempre que está disponível”, explica o líder da pesquisa.

Combate à obesidade

Essa descoberta abre portas para novas abordagens no controle do consumo excessivo de açúcar.

“Já existem medicamentos que bloqueiam receptores opioides no cérebro para tratar a obesidade. Adaptá-los para diminuir especificamente o desejo por açúcar pode ser uma estratégia promissora. No entanto, é necessário investigar isso com mais profundidade”, afirma o pesquisador.

A resposta que não quer calar

Uma das perguntas ainda sem resposta, de acordo com Fenselau, é se o cérebro pode reverter esse mecanismo com mudanças na alimentação. Existem indícios de que estratégias comportamentais e nutricionais podem ajudar a minimizar essa ativação, mas os cientistas precisam aprofundar mais essa investigação.

Outra questão em aberto é se há diferenças individuais na resposta ao açúcar. Algumas pessoas podem ser mais suscetíveis a esse efeito do que outras, o que poderia explicar por que algumas têm mais dificuldade em resistir a doces do que outras.

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