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quarta-feira, 19 março, 2025

Brasil é citado em arquivos sobre a morte de Kennedy

Na terça-feira (18), o governo dos Estados Unidos divulgou mais de 2 mil documentos relacionados às investigações do assassinato do presidente John F. Kennedy, ocorrido em 1963. Alguns desses arquivos mencionam o Brasil, gerando novas especulações sobre possíveis conexões do país com o caso.

A liberação dos arquivos foi autorizada pelo presidente Donald Trump em janeiro deste ano e inclui relatórios de diversos órgãos dos Estados Unidos, como a CIA (Agência Central de Inteligência). Alguns documentos fazem referência ao Brasil, especialmente no contexto da Guerra Fria e das influências de China e Cuba na América Latina, levantando novas questões sobre o envolvimento do país nas investigações do assassinato de Kennedy.

Menções

Brizola recusa de ajuda de China e Cuba

Um dos documentos revela que o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, recusou um apoio oferecido por Cuba e China em agosto de 1961. Esse episódio, mencionado nos arquivos, faz parte do contexto da Guerra Fria e das tensões internacionais que influenciaram a política latino-americana na época.

O documento divulgado é um telegrama da CIA, que menciona que Leonel Brizola liderava os esforços para garantir que João Goulart assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros.

O telegrama também revela que Fidel Castro e Mao Tse-Tung ofereceram apoio material a Brizola, incluindo “voluntários”. No entanto, o governador recusou a ajuda, temendo uma crise nas relações internacionais do Brasil e uma possível intervenção dos Estados Unidos. Brizola faleceu em 2004, aos 82 anos.

Projeto Cuba

Um arquivo de janeiro de 1962 descreve as ações da CIA para sabotar o governo cubano, detalhando estratégias para enfraquecer o regime de Fidel Castro. Esses documentos revelam os esforços da agência de inteligência dos Estados Unidos para conter a influência comunista na América Latina durante o auge da Guerra Fria.

O documento revela que, em fevereiro de 1962, os Estados Unidos iniciariam uma operação para lançar um movimento de resistência organizado dentro de Cuba. Simultaneamente, a CIA estava promovendo campanhas de propaganda e realizando ações políticas em diversos países do Caribe e da América Latina. O objetivo era apoiar os esforços para conter a crescente influência de Cuba na região. O relatório menciona que “demonstrações em massa” ocorreram no Brasil, além de na Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e outros países da América Latina.

Ações de Cuba no Brasil

Um relatório da CIA datado de julho de 1964, após o golpe militar no Brasil, aponta que os cubanos estavam tentando expandir sua influência sobre outros países da América Latina. O documento detalha os esforços de Cuba para apoiar movimentos de esquerda na região, buscando aumentar a resistência ao poder dos governos alinhados aos Estados Unidos durante a Guerra Fria.

O relatório da CIA menciona um discurso de Fidel Castro, proferido em 1963, no qual ele afirmava que Cuba era a principal fonte de inspiração para revoluções na América Latina.

No entanto, segundo a CIA, os esforços de Cuba para expandir sua influência na região falharam diversas vezes, sendo a queda do governo de João Goulart no Brasil uma “dura derrota” para Havana. Mesmo assim, o documento aponta que o governo cubano continuou a promover, financiar e apoiar grupos revolucionários em países latino-americanos, incluindo Brasil, Argentina e Chile.

Diplomatas brasileiros

Um documento de novembro de 1962 sugere que a CIA utilizou dois diplomatas brasileiros para facilitar a comunicação entre agentes. Segundo o relatório, cartas contendo informações de inteligência eram enviadas em uma bolsa de Miami para Havana e vice-versa, com as duas cidades possuindo missões diplomáticas do Brasil.

O arquivo menciona que os diplomatas brasileiros provavelmente não estavam diretamente envolvidos em espionagem, mas poderiam ajudar no transporte de outros itens, como mapas e até dinheiro, escondidos dentro de latas.

Operações de propaganda

Um memorando de dezembro de 1963 revela que os Estados Unidos estavam planejando ações de influência na América Latina com o objetivo de conter o avanço de grupos alinhados a Cuba. O documento destaca a preocupação dos EUA com a propagação do comunismo na região e as medidas que estavam sendo adotadas para limitar o impacto da Revolução Cubana, incluindo apoio a governos e movimentos contrários à influência de Havana.

O documento menciona uma reunião de um subcomitê do governo dos Estados Unidos, focada em estratégias para combater a presença comunista na América Latina, especialmente em relação à influência de Cuba e China. Entre as medidas discutidas, estava o uso de campanhas para moldar a opinião pública em países latino-americanos, incluindo o Brasil.

Um dos principais pontos de interesse era a reunião da Federação Sindical Unificada para a América Latina, marcada para 1964 no Rio de Janeiro. Os EUA temiam que o evento fortalecesse sindicatos alinhados a Cuba e à China, e, como parte do esforço para enfraquecê-lo, planejaram uma série de ações.

A CIA deveria conduzir campanhas de propaganda no Brasil, destacando as condições de trabalho na China e em Cuba, com o objetivo de forçar o adiamento da reunião. Além disso, o embaixador dos EUA no Brasil foi orientado a avaliar a possibilidade de ações de grupos locais contra o evento.

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