À medida que envelhecem, a mulheres sentem mais raiva, mas a demonstram menos. Essa foi descoberta de um estudo recente da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. A pesquisa acompanhou 271 mulheres entre 35 e 55 anos, todas ainda menstruando, com bom nível educacional e inseridas no mercado de trabalho.
Os resultados, publicados na revista científica Menopause, fazem parte do Seattle Midlife Women’s Health Study, um levantamento sobre a saúde de mulheres na meia-idade iniciado nos anos 1990.
Ao analisarem dados de entrevistas e questionários, os pesquisadores observaram que diferentes manifestações da raiva – como irritabilidade constante, hostilidade e reações agressivas – tendem a se intensificar com o tempo. Mas essa mudança não vem acompanhada de uma expressão maior desses sentimentos.
O pico da raiva parece acontecer na chamada perimenopausa, período que antecede a menopausa e é marcado por grandes flutuações hormonais. Nesse intervalo, o sentimento pode se intensificar, mas tende a perder força conforme a mulher entra definitivamente na menopausa.
Esse processo, segundo os cientistas, pode funcionar como uma espécie de transição emocional. A experiência acumulada, aliada às mudanças hormonais, leva a uma espécie de “treinamento” emocional. Com isso, muitas mulheres aprendem a lidar melhor com sua raiva com o passar do tempo, não porque deixam de senti-la, mas porque desenvolvem mecanismos para controlá-la.
“O lado da saúde mental da transição para a menopausa pode ter um efeito significativo na vida pessoal e profissional de uma mulher. Este aspecto da perimenopausa não foi sempre reconhecido e gerenciado. Educar as mulheres a respeito da possibilidade de mudanças de humor durante estes períodos vulneráveis e proativamente controlar os sintomas pode ter um efeito profundo na qualidade de vida e saúde geral”, disse Monica Christmas, uma das autoras do estudos, em comunicado à imprensa.
Apesar do aparente autocontrole, os pesquisadores alertam para os riscos da repressão emocional a longo prazo. Estudos anteriores já associaram a supressão da raiva a condições como hipertensão e problemas cardíacos, dois fatores que estão entre as principais causas de morte entre mulheres.
“A raiva não deve ser ignorada ou reprimida sistematicamente. É preciso entender sua origem e encontrar formas saudáveis de canalizá-la”, ressalta uma das autoras, que reforça a necessidade de mais estudos sobre o impacto emocional e físico da raiva na saúde feminina.