A obesidade infantil é uma preocupação crescente em escala global. Segundo a World Obesity Federation, 158 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos vivem atualmente com excesso de peso. A projeção é alarmante: até 2030, esse número pode chegar a 254 milhões.
A pediatra Gabriela Oliani, da Santa Casa de São Roque, unidade administrada pelo Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas João Amorim em parceria com a Prefeitura da cidade, alerta que fatores genéticos e hereditários são responsáveis por 55% a 80% da variação individual nos casos de obesidade. “Isso mostra que, embora alimentação e atividade física sejam fundamentais, a predisposição genética tem grande impacto no desenvolvimento da condição”, explica.
Antes visto como um problema restrito a países de alta renda, o sobrepeso infantil tem avançado de forma significativa em nações de baixa e média renda, tornando-se uma preocupação mundial.
Gabriela destaca que a formação dos padrões alimentares começa ainda na gestação, já que a variedade da dieta da gestante pode expor o feto a moléculas palatáveis e influenciar preferências alimentares futuras.
A amamentação, por sua vez, é fator protetor contra a obesidade, e uma introdução alimentar adequada favorece a formação de bons hábitos desde cedo. “A prevenção começa na base da família. As idades críticas são aquelas que envolvem mudanças nos padrões de vida, como o início da escolarização e a socialização na primeira infância.”
Entre os riscos à saúde associados à obesidade, a pediatra aponta consequências de curto prazo, como distúrbios respiratórios, dores articulares, alterações alimentares e baixa autoestima. Já no longo prazo, há maior probabilidade de desenvolvimento de diabetes tipo 2, hipertensão arterial e síndromes cardiovasculares na idade adulta.
A profissional também alerta para os ambientes obesogênicos, que facilitam o acesso a alimentos ultraprocessados e estilos de vida sedentários, contribuindo para o agravamento do problema.
“A exposição precoce a telas, por exemplo, influencia negativamente a alimentação, estimula o consumo de alimentos calóricos por meio de publicidade e reduz a qualidade e a duração do sono. A recomendação é limitar o tempo de tela a, no máximo, duas horas por dia.”
A médica destaca que é preciso adotar uma abordagem multifatorial, com incentivo a dietas saudáveis, prática regular de atividade física, controle do sono e envolvimento familiar. “Crianças estimuladas desde cedo conseguem compreender e adotar bons hábitos, especialmente quando se sentem valorizadas e participam das decisões alimentares.” Ela ainda enfatiza a importância de um suporte integrado, com médicos, nutricionistas e psicólogos, e a prática esportiva regular: ao menos três vezes por semana, por 50 minutos.
Complementando as ações familiares, Gabriela defende o papel fundamental das escolas na prevenção. “A criança, quando bem orientada, replica em casa o que aprende na escola e pode até influenciar positivamente os pais.”
A especialista reforça, ainda, a necessidade de olhar para os impactos emocionais da obesidade infantil. “Problemas como ansiedade, bullying, baixa autoestima e até depressão estão associados ao excesso de peso. Por isso, é essencial promover uma imagem corporal saudável, baseada na aceitação, em hábitos positivos e no esforço individual, e não exclusivamente na perda de peso. Sempre explico às famílias: primeiro a gente muda os hábitos. Depois, os resultados vêm naturalmente.”
Além disso, garantir um ambiente urbano seguro e adequado para a prática de atividades físicas também é parte da solução. “Precisamos de praças zeladas, centros esportivos ao ar livre e políticas que incentivem o esporte e a convivência social. A prevenção da obesidade infantil começa em casa, mas deve ser responsabilidade de toda a sociedade.”