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terça-feira, 28 outubro, 2025

Dinheiro roubado dos aposentados era lavado em empresas de fachada

O economista Alexandre Guimarães, ex-diretor de Governança do INSS entre 2021 e 2023, admitiu em depoimento à CPMI do INSS, ontem (27), ter mantido negócios com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, apontado como chefe do esquema que roubou os aposentados e pensionistas. De acordo com as investigações da Polícia Federal, Guimarães teria recebido mais de R$ 2 milhões por meio de transações entre as empresas Vênus Consultoria, da qual é proprietário, e a Brasília Consultoria e a Prospect, do “Careca”.

O relato do ex-diretor do INSS, segundo parlamentares da CPMI, confirma um “modus operandi” do esquema já identificado pela PF: a criação de empresas de fachada usadas para repassar recursos roubados e simular contratos de prestação de serviços. O senador Izalci Lucas (PL-DF) resumiu o funcionamento do esquema para a Agência Senado:

— O “modus operandi” do Careca foi esse: criando empresas e repassando recursos. E a verdade é que não foi tomada nenhuma ação para beneficiar os aposentados, mas para beneficiar o Careca e outros envolvidos.

Durante o depoimento do economista, o relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), questionou o vínculo financeiro com o “Careca do INSS” e o fato de ter criado uma empresa que recebeu recursos do grupo investigado pelo esquema criminoso:

— Onde pesa a suspeição sobre o senhor? O senhor disse que sentou com o “Careca do INSS” para tratar de negócios sobre um aplicativo. Depois aparece o envio de dinheiro da empresa do “Careca” para a Vênus, da qual o senhor é sócio. No meio disso tudo, o senhor está recebendo R$ 2,5 milhões. Por que criou a Vênus?

Guimarães respondeu que a Vênus foi criada para produzir material sobre educação financeira e que os pagamentos recebidos se referiam a serviços prestados à Brasília Consultoria, seu único cliente. “Foram, no mínimo, 336 serviços, todos devidamente registrados. Meu contrato era com a Brasília Consultoria, e todo esse serviço foi prestado a ela. Eu abri a empresa para atender à demanda da Brasília Consultoria”, disse o depoente.

Guimarães, que não fez uso de habeas corpus e nem se negou a responder as perguntas do relator e dos parlamentares, admitiu que o “Careca do INSS” indicou Rubens Oliveira Costa, suposto operador financeiro do esquema, para que “ajudasse a abrir a empresa Vênus”, da qual se tornou sócio. Fato que causou estranheza ao presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG):

— Um homem com a experiência dele [Alexandre Guimarães], com o currículo que ele tem, com toda uma trajetória, inclusive por empresas internacionais, pelo sistema financeiro… Qual a explicação para que o Sr. Antônio Carlos Camilo Antunes [o “Careca”] colocasse o senhor Rubens Oliveira Costa para ajudá-lo a abrir uma empresa? — observou o senador.

Guimarães também admitiu que o contador de sua empresa, Alexandre Caetano, foi indicado por Rubens Oliveira Costa. De acordo com o relator, o mesmo Alexandre Caetano era o contador das empresas do “Careca”.

O relator expôs a suposta participação de Guimarães no esquema:

— O senhor virou diretor do INSS por indicação política, depois fez uma empresa cujo administrador é o operador financeiro do chefe da organização criminosa, recebeu cerca de dois milhões e meio desse conglomerado que saqueou aposentados e pensionistas, e está dizendo que fez tutoriais de educação financeira? Eu não acredito nessa versão — disse.

Em meio aos questionamentos, Guimarães negou envolvimento com as fraudes. Segundo ele, todos os serviços prestados foram legais e “devidamente documentados”.

— Eu não cometi irregularidades. Eu só prestei serviços para a Brasília Consultoria. Tenho notas fiscais — afirmou o ex-diretor de Governança do INSS.

Vários deputados e senadores, porém, consideraram inverossímeis as explicações e afirmaram que o depoente está “no centro de uma engrenagem de corrupção que se repetiu dentro do INSS”.

A senadora Soraya Thkonicke (Podemos-MS) apontou a rápida evolução patrimonial de Alexandre Guimarães. Para ela, a análise das declarações de Imposto de Renda do depoente mostra um enriquecimento “do dia para a noite”.

— No seu comparecimento, Sr. Alexandre, houve mais esperteza do que inteligência, apesar do seu currículo. Não o parabenizo tampouco por não ter impetrado um habeas corpus. Era justamente essa sensação [de coragem] que os seus advogados inteligentemente resolveram trazer. O senhor vem única e exclusivamente para responder sobre um contrato. E o senhor não traz esse contrato — disse Soraya, ressaltando que Guimarães compareceu à CPMI sem levar o contrato entre a sua empresa, Vênus, e as do “Careca do INSS”.

Guimarães afirmou ter encontrado o “Careca do INSS” em 2021, quando era o diretor de Governança do INSS, cargo que exerceu entre 2021 e 2023. Declarou que só soube do envolvimento dele no esquema de fraudes “com a operação da Polícia Federal, quando os fatos vieram a público”. Disse ainda que o conheceu “em um bar de Brasília, por meio de amigos em comum”.

Nos primeiros meses de 2023, o depoente deixou o cargo. Já em 2025, o depoente confirmou ter participado de uma reunião com o então deputado federal Wolney Queiroz, que sucedeu Carlos Lupi este ano na pasta da Previdência Social. Segundo ele, foi à reunião apenas para conhecer o deputado, então cotado para o Ministério da Previdência Social.

Durante o depoimento, parlamentares ressaltaram que o ex-diretor manteve relações empresariais com figuras centrais do esquema e se beneficiou do mesmo padrão de movimentações ilícitas observado em outras investigações.

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