Margarida Maria Vicente de Azevedo Bonetti, mulher que ficou conhecida por viver numa mansão abandonada em Higienópolis, em São Paulo foi surpreendida com a decisão da Justiça paulista de bloquear R$ 83,8 mil das contas bancárias.
A história de Margarida é tema do podcast “A Mulher da Casa Abandonada”, produzido pelo jornalista Chico Felitti para a Folha de S.Paulo. A mulher, que esconde o rosto com uma pomada branca, escapou da lista de procurados do FBI sob acusação de ter escravizado uma empregada durante duas décadas.
A juíza Paula Velloso Rodrigues Ferreri coube o bloqueio determinado em abril deste ano em razão de um processo movido pelo Condomínio Três Barões, localizado na avenida Angélica, em Higienópolis.
Pertencente a uma família tradicional de São Paulo, Margarida Bonetti é, de acordo com o processo, proprietária de um apartamento de 103 metros quadrados no edifício, que lhe foi doado por um parente em 1988.
Aberto pelo condomínio em razão de uma multa que Margarida recebeu em 2015, o processo foi aberto quando uma parente ainda mora no imóvel e teria sido flagrada rabiscando o hall do andar do apartamento. “Ao perceber a movimentação incomum, a vizinha, por meio do olho mágico, realizou a gravação do ato e reportou os fatos à administração”, declarou o condomínio no processo.
O edifício cobra R$ 7.800, valor que inclui a multa e o ressarcimento pelas despesas com a pintura do hall, além dos juros, dos honorários advocatícios e das custas do processo.
O montante bloqueado foi encontrado em duas contas bancárias mantidas pela “mulher da casa abandonada”. Os valores cobrados pelo condomínio serão penhorados e a diferença devolvida para Margarida, que não apresentou advogado no processo e é representada pela Defensoria Pública.
Margarida é neta Francisco de Paula Vicente de Azevedo, o Barão de Bocaina, título que recebeu por decreto do Imperador D. Pedro II. Ele foi banqueiro, comerciante e diretor da Estrada de Ferro São Paulo-Rio de Janeiro e do Banco Comercial do Estado de São Paulo.
O imovel abandonado pertenceu ao pai de Margarida, Geraldo Vicente de Azevedo, que foi chefe da Santa Casa de Misericórdia, e morava no local com sua esposa, Maria de Lourdes Danso Vicente de Azevedo.
Além da riqueza, o casal era conhecido na região de Higienópolis pelas ações generosas, como a distribuição de comida e roupas para os moradores de rua.
O médico faleceu em 1998. A mãe, em 2011.
Margarida continuou a morar no local, e hoje o imóvel está coberto por vasta vegetação, sem saneamento básico.
Uma investigação foi aberta pela polícia para apurar se ela sofre de distúrbios psicológicos e foi abandonada.(UOL)