Aparece como praga, sem chance de ser combatido, e normalmente acaba prevalecendo. É o modismo, que vira e mexe ataca as pessoas, contamina seus cérebros e soa como ode à ignorância.
Há algum tempo o gerúndio dominava as conversas. Era um tal de “vou estar marcando”, de “vou estar telefonando”, e outros semelhantes, que chegou a causar asco.
Agora são outros os modismos, e o pior deles é a criação de palavras para substituir as mais simples, já existentes, constantes no dicionário de verbetes da Academia Brasileira de Letras e presentes nos dicionários.
E não há gente analfabeta fazendo isso. Ao contrário, gente bem estudada, cheia de diplomas, e alguns até autoentitulando doutores.
Tornou-se comum depararmos com textos narrando que tal projeto, ou tal idéia, teve aceitabilidade. O ignorante, fazendo-se culto, trocou aceitação por aceitabilidade. Também comum, principalmente em notícias oficiais, que tal estrada foi contemplada com asfalto.
Para alguém ou alguma coisa ser contemplado é preciso um sorteio. Donde se conclui que o governante colocou os nomes das estradas num saco ou urna e sorteou a que receberia asfalto. Pronto, ela foi contemplada.
A língua é dinâmica, já ensinava Jânio Quadros em seu Curso de Gramática e Língua Portuguesa, escrito nos anos 1960. É dinâmica sim, mas espera-se que seja preservada.
Muitas palavras foram incorporadas à língua pelo uso, pela necessidade de adaptação, ou pelo aportuguesamento de termos estrangeiros, notadamente os franceses e ingleses.
Mais que aceito é o uso de deletar (que apareceu com os computadores, patrocinado pela tecla delete), ou escanear ou ainda digitar. Neste último caso, entendeu-se que havia diferença entre digitar e datilografar.
Diferenças sutis demais para discutir – melhor aceitar. Seria ainda muito petulante se escrever soutien (original francês) – melhor usar a forma aportuguesada, sutiã.
O que preocupa é o exagero e a naturalidade de alguns escribas da era moderna, que na falta de vocabulário próprio criam uma linguagem código. Em tempo: não existe disponibilizar. O correto é tornar disponível. Entendeu cara pálida?
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