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quarta-feira, 6 agosto, 2025

Rei do futebol, atleta do século

Pelé chegou aos 80 anos no último dia 23, reconhecido como o melhor de todos, mas ainda criticado por não reconhecer paternidade de uma filha, que já morreu sem conversar com o pai

Unanimidade: quem viu Pelé jogar afirma que não houve, nem haverá outro como ele. Foi um jogador completo, que chutava bem com as duas pernas, cabeceava bem, sabia driblar, tinha velocidade, e quando precisava, jogava como goleiro. No dia 23 passado, Pelé – Edson Arantes do Nascimento, chegou aos 80 anos, não tão bem de saúde, mas ainda reconhecido como o melhor de todos.

Pelé nasceu em Três Corações (Minas Gerais), filho de Dondinho, que já jogava futebol, e de dona Celeste, que cuidava da casa. Mudou-se com a família para Bauru, e de lá foi para o Santos. Pelé chegou ao Santos no começo de agosto de 1956. Tinha 15 anos e 10 meses.

No primeiro treino, encheu os olhos do presidente, o ex-goleiro Athiê Jorge Coury, que lhe garantiu alojamento, alimentação e salário de 6 mil cruzeiros – o primeiro contrato profissional seria assinado apenas em 25 de junho de 1957, quando Pelé já havia feito 30 jogos.

A estréia aconteceu no dia 7 de setembro, quando marcaria o primeiro de seus 1.091 gols pelo Santos, substituindo o veterano Del Vecchio no segundo tempo da vitória sobre o Corinthians de Santo André, por 7 a 1. Daquela tarde festiva do Dia da Independência até encerrar a carreira oficialmente, em 1977, Pelé vestiria a camisa do Santos 1.116 vezes. Em 21 anos foram 1.367 jogos e 1.279 gols por Santos, Seleção Brasileira, Seleção Paulista, Seleção das Forças Armadas e New York Cosmos, para onde se transferiu em junho de 1975 com a missão de popularizar o futebol nos Estados Unidos.

O título de Rei do Futebol veio do jornalista e escritor Nélson Rodrigues, encantado com o jogador quando o viu na partida entre Santos e América do Rio em fevereiro de 1.958. O Santos ganhou por 5 a 3 – quatro gols de Pelé. Gostou tanto que lhe dedicou uma crônica inteira – A realeza de Pelé. Foi a primeira vez que o chamaram de rei do futebol.

Todos os feitos foram precoces na carreira de Pelé. Com as boas atuações no Santos, não demorou a chamar a atenção de Vicente Feola, técnico da Seleção, que o convocou pela primeira vez para enfrentar a Argentina, pela Copa Rocca. Entrou no segundo tempo e marcou o gol brasileiro na derrota por 2 a 1, no Macaranã, em 7 de julho de 1957. No fim do mesmo ano, foi vice do Campeonato Paulista, atrás do São Paulo.

O ano seguinte seria de glória. Em março, Pelé foi confirmado por Feola para a Copa do Mundo. Caçula do grupo, assumiu o posto de titular na Suécia na terceira rodada, já que Dida estava machucado e Mazolla não estava em boa fase. Foi decisivo na fase final, ao fazer o gol da vitória sobre País de Gales, por 1 a 0, que classificou o Brasil para as semifinais.

Até hoje é o único jogador a marcar três gols em uma final de Copa, na goleada sobre a França, por 5 a 2. No fim de 1958, levantou o primeiro dos 10 troféus do Paulista pelo Santos. Em 1959, aos 18 anos, serviu como recruta no 6º Grupo Móvel de Artilharia da Costa, em Santos.

A década de 1960 consagraria Pelé como o Rei do futebol. Em 1961, marcou gol histórico contra o Fluminense, quando driblou sete jogadores antes de balançar a rede – o lance rendeu cinco minutos de aplauso e placa no Maracanã.

Com a Seleção, conquistou o bicampeonato no Chile em 1962, apesar de ter se machucado na segunda partida. Com o time santista de Gilmar, Coutinho e Pepe, foi o dono das Américas e, depois do Mundo, ao conquistar o bicampeonato da Libertadores e do Mundial Interclubes, em 1962 e 1963. No Brasil, teve a sequência de cinco títulos da Taça Brasil, iniciada em 1961 e interrompida em 1966, quando perdeu para o Cruzeiro. Em fevereiro de 1966, Pelé se casou com Rosemeire Cholbi, com quem teria três filhos, até a separação, no início dos anos 1980.

Pelé era importante demais para o Santos, que excursionava o mundo todo em jogos amistosos – alguns nem tanto. Com Pelé era um preço, sem Pelé, nem metade. Em 1969 havia guerra civil no Congo, mas o Santos tinha uma excursão para lá. Para ver Pelé jogar, foi proposta uma trégua – nada de tiros enquanto Pelé estivesse por lá. A promessa foi cumprida.

Em outro amistoso, na Colombia, um zagueiro colombiano chamou para si a glória de parar Pelé, e passou a dar entradas violentas. Pelé começou a reclamar, e o juiz não tomava providências, até que Pelé revidou. O juiz o expulsou de campo, aos 30 minutos do primeiro tempo. No intervalo, o juiz foi substituído e Pelé voltou a jogar.

“Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável — a de se sentir rei, da cabeça aos pés, escreveu Nelson Rodrigues na crônica publicada na revista Manchete Esportiva. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”. Na crônica, Nelson confessa ter tomado um susto ao descobrir a idade de Pelé: dezessete anos. “É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado”, escreveu na coluna ‘Meu personagem do ano’, de janeiro de 1959. “Mas, reparem: é um gênio indubitável! Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: ‘Como vai, colega?'”.

Em 1975, quando Pelé já vestia a camisa do Cosmos, Nelson declarou: “Perguntem a qualquer zebra de Jardim Zoológico: ‘Qual é o maior jogador do mundo?’. Todas as zebras dirão, numa cálida unanimidade: ‘Pelé'”. E concluiu: “Do esquimó ao chinês, do russo ao alemão, do patagônio ao egípcio, todos acham que Pelé realmente é o grande craque do presente, do passado e do futuro”.

O jornalista e escritor pernambucano Nelson Rodrigues não foi o único a tecer elogios ao talento de Pelé. Ao longo das décadas, outros autores, de diferentes estilos e gerações, escreveram contos, poemas e até romances, prestando homenagem ao “jogador mais completo que já existiu”, como diria Ruy Castro. Do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (“O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé”), autor de Quando é dia de futebol (2014), ao cronista gaúcho Luís Fernando Veríssimo (“Pelé era bom até amarrando a chuteira”), de Time dos sonhos – Paixão, poesia e futebol (2010).

A década de 1970 foi a consolidação do mito. Na considerada maior Seleção Brasileira de todos os tempos, Pelé conquistou o tricampeonato no México. Encantou pelos quatro gols e até pelos que não marcou: um chute do meio-campo que saiu ao lado do goleiro tcheco Ivo Viktor; a cabeçada forte defendida pelo inglês Gordon Banks, considerada a maior defesa de todas as Copas; e o drible de corpo e o chute de bate-pronto que quase surpreenderam o goleiro uruguaio Mazurkiewicz.

Os anos seguintes foram marcados pelas despedidas, primeiro da Seleção (em julho de 1971), depois do Santos (em outubro de 1974). De 1975 a 1977, atuou no New York Cosmos, ao lado de ídolos como Carlos Alberto Torres, Franz Beckenbauer e Johan Neeskens, em uma tentativa de popularização do futebol nos Estados Unidos.

Desde a aposentadoria, Pelé é o embaixador mundial de futebol. Recebeu as mais diversas homenagens, da ONU ao Palácio de Buckingham. Foi escolhido atleta do século nas mais diversas federações e publicações. Participou de partidas amistosas como convidado especial, foi figura de destaque em premiações e circulou pelo mundo todo até entrar em um período de reclusão, por causa do abalo na saúde nos últimos anos. Fragilizado devido aos problemas no quadril, Pelé tem sido hospitalizado com alguma frequência. No final de 2014, foi sido vítima de uma infecção urinária grave e teve de entrar em tratamento intensivo e em diálise.

Em entrevista ao site Globoesporte.com em fevereiro deste ano, Edinho, seu filho e ex-goleiro do Santos, falou até em depressão. A última aparição pública de Pelé foi em maio do ano passado, quando ele participou de um evento em São Paulo. Na época, posou ao lado do ex-presidente norte-americano Barack Obama.

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