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quarta-feira, 24 abril, 2024

Ana Cristina preserva a memória da Revolução de 32

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Quando tudo começou? Desde sempre, ela responde. Apaixonada por História e professora durante anos da matéria, Ana resolveu preservar a memória da Revolução Constitucionalista de 1932. Levou quase 30 anos para conseguir montar um acervo particular, exibido quando solicitado e mantido sob segurança dia e noite.
Nele, há um pouco de tudo, mas de forma ordenada e bem explicada. Como os capacetes usados pelos voluntários paulistas naquele ano, um modelo francês, outro inglês – ambos de aço e completos. Ou como a munição que era despejada contra as tropas de Getúlio Vargas.
Os pentes de munição para fuzis HK 98, por exemplo, foram fabricados pelas indústrias Matarazzo. “Houve um esforço de guerra, e as indústrias deixaram de fabricar suas peças tradicionais para suprir as tropas paulistas”, explica ela. Mas preciosidade mesmo são três peças de artilharia pesada.
Uma delas é a granada de morteiro. Outras, as granadas de obus de 75 e 105 mm, usada nos canhões Krupp. Por questão de segurança, as granadas (há outra de mão, conhecida como “abacaxi”) estão desarmadas. Todas as peças estão “in natura”, sem polimento, algumas até com um pouco de oxidação, mas ainda ostentando as gravações de sua origem.
“Não é fácil conseguir tudo isso, diz Ana. A gente recebe a informação de onde pode estar determinada peça e vai atrás; outras vezes, algum colecionador oferece e então a gente negocia”. Negocia em termos – nenhuma das peças do acervo está à venda.
É o caso de um facão usado pelos voluntários soldados. Ana conseguiu o facão, mas sabe que será difícil encontrar sua bainha. Deferente da baioneta, que está completa e com a trava do fuzil funcionando tal como saiu de fábrica.
Livros sobre o assunto também não faltam, alguns impressos na época, outros escritos a posteriori. Jornais da época, com notícias sobre os combates, engrossam a coleção. E tudo muito bem conservado. “Os jornais estão num plástico comprado na Alemanha – explica Ana. É um plástico diferente, que não gruda e conserva o impresso tal como saiu da gráfica”.
No acervo de Ana há ainda diplomas, uma caderneta que é uma um manual de orientação aos voluntários e anéis que eram parte da campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, promovida pela Associação Comercial da Capital. “Como faltavam recursos, e é bom lembrar que o Estado de São Paulo ficou isolado, as pessoas doavam seus anéis e alianças, que eram derretidos e transformados em moeda de troca”, explica Ana.
Na campanha, os casais doavam suas alianças – é bom imaginar que há 83 anos as alianças eram o símbolo máximo do casamento e da integração da família. Em troca, recebiam outra, de metal, e um diploma. Profissionais doavam seus anéis de formatura e recebiam outro, uma réplica, em metal.
E dentre os anéis, uma curiosidade. “Esse par de alianças, conta Ana, veio de uma senhora que não conhecia. Ela me escreveu contando que seus filhos não se interessavam mais em conservá-lo. Eram as alianças dos pais dessa senhora, que pediu que as conservasse. Estão aqui até hoje”.
E a falta de recursos e entendimento com o governo federal era tão grande que São Paulo passou a ter seu próprio dinheiro. Ana tem cédulas da época, impressas pela Companhia Melhoramentos. Ao lado das cédulas, uma partitura original da Marcha do Soldado, com música de Marcelo Tupynambá e letra do poeta Guilherme de Almeida.
Não se arrepende nem um pouco dessa dedicação, que lhe valeu a presidência do 20º Núcleo de Correspondência de Jundiaí da Sociedade Veteranos de 32 – MMDC. “Um povo sem memória é um povo sem história”, diz ela, relembrando uma velha máxima.
Nesta semana, Ana tem motivos de sobra para comemorar. A estátua do soldado constitucionalista foi finalmente instalada na Praça do Maçon, na avenida Nove de Julho. A estátua estava guardada no Solar do Barão, meio esquecida. Quando Ana soube, falou com quem podia para levar a estátua para a Nove de Julho.
É a mesma que estava, outrora, na Praça São Paulo – o espaço em frente ao Parque Comendador Carbonari, e que de lá foi retirada não se sabe como e porquê. “Finalmente ela está em seu lugar, para que todos se lembrem dos nossos heróis constitucionalistas”, afirma ela.
O museu particular de Ana não é aberto ao público. Parte das peças é levada para palestras e exposições pontuais, sob o olhar vigilante da dona. São ocasiões em que ela demonstra conhecimento profundo do assunto, resultado de sua formação: Colégio Sion, Colégio Rio Branco e Universidade Mackenzie. No Rio Branco, voltou depois de formada e deu aulas.
“Quando temos oportunidade, mostramos tudo isso a quem está interessado e explicamos os reais motivos da revolução. Infelizmente, nos dias atuais, o assunto é visto por professores e alunos “en passant”, o que leva muita gente a pensar que São Paulo queria se separar do resto do país”, finaliza.

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