No início da semana a revista francesa France Football escolheu o jogador brasileiro Diego Tardelli o maior mercenário do futebol desde 2011. O critério da escolha é único – o fato do jogador trocar de clube sempre que aparece uma proposta melhor, não levando em conta seu contexto histórico.
Os franceses têm lá suas razões para fazer listas, mas esqueceram que “contexto histórico” não enche barriga de ninguém. No Brasil é diferente – existem duas categorias de mercenários. Uma é a de jogadores de futebol, outra a de jornalistas. Não são vistos como profissionais, que buscam melhores salários e condições de trabalho.
Advogados, médicos, engenheiros, dentistas – todos podem trabalhar onde e para quem quiserem que serão elogiados pelo grau de profissionalismo. Se um médico deixar uma pequena clínica para trabalhar num grande hospital será saudado, elogiado e badalado como um profissional que está crescendo.
Mas ai do jornalista que ousar escrever para uma empresa concorrente onde trabalhava; ou para um grupo político para o qual trabalhou. Será visto como mercenário, vendido, sem caráter – como se tudo isso ajudasse pagar as contas.
Essa visão caolha, retrógrada, ignorante e sem fundamento é colocada como norma de conduta. Quando um jogador de futebol passar uniformizado pelo caixa do supermercado, precisará pagar pelo que comprou. Se um jornalista apresentar seu registro profissional no caixa, também não vai adiantar nada. Precisa pagar. E para pagar, jogadores e jornalistas, precisam trabalhar.
Dizia-se, nos bons tempos de redações, que o bom jornalista era aquele que perguntava ao chefe se devia escrever contra ou favor de Jesus Cristo. Era um sinônimo de versatilidade, de boa argumentação, de ter vários pontos de vista sobre um mesmo assunto.
Hoje, para acobertar a falta de preparo, de intelecto, de limitação, de visão diz-se que, quem isso faz é mercenário. Mas enquanto houver esse tipo de “norma”, a plebe ignara, autodesignada intelecta, vai continuar julgando jogadores de futebol e jornalistas. E até prostitutas, antes somente prostitutas, agora são “profissionais do sexo”. A ignorância é crassa.




