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quinta-feira, 25 abril, 2024

Não é olha o passarinho. É olha o Paulo Furuta | Confira a entrevista

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Poucos têm uma história a contar como Paulo Furuta, um nissei nascido em Londrina, no Paraná, e que chegou a Jundiaí no início dos anos 1960. Fotografou personalidades políticas e artísticas, era o preferido da alta sociedade nas festas e casamentos, trabalhou em jornais, foi dono do primeiro jornal semanal da cidade, e ainda, no final, trabalhou com publicidade.
Poucos também conhecem tão bem a vida da região como ele. Fotografou posse dos primeiros prefeitos quando suas cidades foram emancipadas, em 1965, acompanhou o nascimento e a vida de muitas empresas. E fora daqui também foi testemunha de histórias – fotografou os incêndios dos edifícios Andrauss e Joelma, na Capital.
Viúvo há pouco tempo de dona Wanda, Furuta tem duas filhas, das quais não faltam motivos para se orgulhar. Eliane foi funcionária graduada no Banco Itaú – hoje ajuda o marido, Zelão, tocar sua loja, em Jundiaí. Margarete foi mais longe – como funcionária da IBM conheceu o mundo, e, ironia do destino, só recentemente o Japão.
Furuta foi fotógrafo numa época diferente, onde nem se pensava em máquinas digitais. “O fotógrafo precisava saber trabalhar em laboratório, conhecer a luz, e regular a máquina manualmente. Não é como hoje, conta ele, que tudo ficou mais simples”.
Começava no laboratório esse trabalho. O revelador e o fixador do filme e do papel eram preparados manualmente, e só existia filme em preto e branco. As fotos eram ampliadas e reveladas uma a uma, num trabalho que levava horas.
Furuta passou algum tempo no JJ. Foi o primeiro de Jundiaí a ter uma máquina fotográfica Leika, e o primeiro a aparecer no campo do Paulista com uma teleobjetiva de 500mm. Pela tecnologia alemã há alguma paixão – sua primeira máquina foi uma Rolleiflex de filme 6×6.
Foi também um dos donos do primeiro jornal semanal de Jundiaí, o JundNews. A brincadeira durou dois anos. E então Furuta foi trabalhar no JC. Hoje aposentado, ainda dá uma mãozinha na loja da filha. Quando tem tempo, conversa com os amigos.
No jornalismo, viveu histórias. Quando um grupo de japoneses chegou a Jundiaí num feriado, o então vice-prefeito Tarcísio Germano de Lemos mandou chamar Furuta para servir como intérprete – eram os diretores da Kanebo, que viria a se instalar em Jundiaí. Assim também foi com Fantex e CBC.
Furuta viu nascer a primeira empresa com plano de saúde de Jundiaí, a Sobam. “O médico Renato trabalhava no Hospital Maternidade e fazia `bico´ num hospital em Campo Limpo. Como lá estava meio decadente, se juntou aos amigos Lázaro Freitas, Paulo Pinheiro e Arnaldo Reis, e fundou a Sobam, que logo se instalaria em Jundiaí”.
Furuta foi o intermediário entre Sobam e as empresas. Primeiro as japonesas, depois todas. “Eu trabalhava com um grande amigo, o Arlindo Cardoso, que a gente fazia uma página dedicada à indústria e comércio, que passou a ser patrocinada pela Sobam. Era nessa página que tudo acontecia”.
O faro de jornalista sempre esteve adiante no trabalho. Numa tarde, junto com o jornalista Anselmo Brombal, Furuta foi à prefeitura de Jundiaí. No elevador, encontrou dois senhores engravatados que falavam sobre uma fábrica. Como a conversa interessou, resolveram “colar” nos dois, sem se identificar. Era o que precisavam: a confirmação que a Coca-Cola viria para Jundiaí, em junho de 1990.
Pouco tempo depois, Furuta fotografou todas as fases de construção da fábrica. E nem deu tempo de comemorar – foi o único fotógrafo presente à inauguração da fábrica – que lá estava Furuta atrás de outro furo: a construção do shopping suspenso sobre a Bandeirantes, o Serrazul.
“Nunca precisei usar crachá – diz ele – o que valia era o conhecimento. Ou o desconhecimento em alguns casos”. O desconhecimento foi útil quando Xuxa veio fazer show no campo do Paulista. “Colocaram 200 seguranças para blindar a Xuxa, e quando ela desceu do palco eu estava de frente com ela, fotografando”, conta ele. E onde estava o japonês? Escondido embaixo do palco.
Fotografia foi sua principal paixão. A outra, passarinhos. Furuta sempre gostou de pintassilgos e bicudos. E a paciência oriental o premiou – foi o primeiro a conseguir criar pintassilgos em cativeiro. “O pessoal conseguia o mestiço, eu insisti e consegui pintassilgo puro”, explica.
Admiração pela tecnologia alemã foi outro forte. Demorou para Furuta comprar uma máquina fotográfica japonesa. Mas chegou lá – conseguiu uma Pentax. Mas continou com as Leika. Carros a mesma coisa.
“Sempre tive carros da linha VW – conta ele – até que uma vez experimentei um Ford Del Rey. Aí comecei a mudar”. E mudou mesmo. Hoje Furuta dirige seu Honda Fit, automático, com a mesma desenvoltura com que dirigia o velho VW 58, câmbio seco e alavanca de câmbio com bola de madeira quando precisou recomeçar a vida.
Hoje as histórias são recordações. Boas, por sinal. Como as do tempo em que fotografava artistas como Elizeth Cardoso, Cauby Peixoto, Nélson Gonçalves e Ângela Maria. Ou quando fazia reportagem policial – chegou a arrumar briga com um delegado, e ganhou – ou de quando fotografava os maiores eventos sociais da cidade. Mas são histórias que merecem ser lembradas.

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