22.4 C
Jundiaí
terça-feira, 23 abril, 2024

Jundiaí, uma cidade a caminho do colapso

spot_img

Na visão dos empreendedores, Jundiaí se tornou um paraíso. Uma cidade onde não falta água, tem eletricidade de sobra e a trinta minutos da Capital. Aeroporto próprio para os aviões dos mais abastados e três aeroportos para quem precisa pagar passagem em prestações – Guarulhos, Congonhas e Viracopos.
Na visão dos publicitários, uma cidade considerada produto fácil de se vender. Além de seus predicados geográficos, a “linda vista para a Serra do Japi”. Na visão dos compradores, euforia extrema na compra e na mudança, que arrefece à medida em que descobrem que Jundiaí também tem problemas.
Não há quem consiga resolver os problemas da cidade a curto prazo. Mesmo que hoje apareça um decreto parando tudo, a cidade vai levar pelo menos dez anos para se recuperar do assédio sofrido nessas últimas temporadas. Para se ter uma idéia: em 2010, o Censo do IBGE mostrou que a cidade tinha 370.126 habitantes. Passados cinco anos, o IBGE refez suas contas – agora somos 401.896 habitantes, 31.770 a mais, ou mais seis mil por ano.
Jundiaí teve 31.521 unidades em prédios de apartamentos aprovadas em 2011 e 2012. De 2013 para cá a Prefeitura iniciou processo criterioso e conseguiu reduzir essa taxa para 3.196 unidades em 2013, 2.425 unidades em 2014 e 106 unidades neste ano.
Além dos prédios de apartamentos, o número de loteamentos também alcançou 2.162 lotes aprovados (divididos em 11 empreendimentos) no período 2011/2012, sendo moderados a zero em 2013, a 291 (em quatro empreendimentos) em 2014 e a 600 lotes (em um único empreendimento) em 2015.
No caso das chamadas “vilas residenciais”, foram 390 unidades aprovadas em 2011/2012, caindo a zero atualmente. A categoria denominada residências em condomínio oscilou menos, passando de 1.471 no período 2011-2012 para 1.268 em 2013, 235 em 2014 e duas em 2015. Também manteve-se o patamar das construções residenciais, com 1.521 (2011), 1.931 (2012), 1.156 (2013), 1.137 (2014) e 73 até o momento em 2015. Os prédios comerciais também tiveram um pico de 1.578 unidades em 2011/2012, passando para 97 em 2013, 407 em 2014 e 11 em 2015.
As construções comerciais tiveram 295 unidades aprovadas em 2011, chegando a 783 unidades em 2012 e depois passando para 61 em 2013, 19 em 2014 e duas em 2015. Já as construções de logística ou industriais tiveram 118 aprovações em 2011, 141 em 2012, 61 em 2013, 19 em 2014 e duas em 2015.
Isso significa que a cada dia, nos últimos cinco anos, Jundiaí ganhou 87 moradores – descontando as mortes e os nascimentos, é o que sobrou. A estrutura para atender esses moradores não está no mesmo ritmo, e isso não depende só do poder público. A cidade tem hoje dois hospitais públicos e três particulares. Há 30 anos, tinha um público e seis particulares.
O que aumentou – e continua aumentando – é o número de escolas, porém insuficientes para atender a demanda. Vira e mexe tem gente procurando o Ministério Público para garantir vaga para seus filhos em creches públicas, o que gera outras discussões. Estariam mesmo essas mães precisando da creche pública ou poderiam pagar uma particular com folga? Todas que têm filhos em creches públicas trabalham de fato ou se apresentam como diaristas com declarações suspeitas?
Tanta gente chegando fez disparar os preços de imóveis, tanto para venda como para aluguel. Há alguns anos, chegou a haver fila de espera para se comprar imóvel. Agora o mercado se acomodou e a crise econômica está ajudando os preços voltarem à realidade – sobram placas anunciando aluguel em todos os bairros, e muitos donos de imóveis preferem fazer negócio diretamente com os interessados, sem a presença do corretor.
Esses quase 32 mil moradores novos que chegaram nos últimos cinco anos trouxeram seus carros ou compraram outros por aqui – e o tamanho das ruas é praticamente o mesmo. Se não usam seus carros, usam o transporte público – e a frota de ônibus não cresceu na mesma proporção.
Alegam os “progressistas” que a cidade é muito grande. Têm razão, porém, dos 432 km² de seu território, 112 km² formam a área urbana. Do restante, 91,4 km² são da Serra do Japi, uma área de tombamento onde não se pode fazer quase nada; 228,6 km² são considerados área de cultivo (lavoura). Outro perigo: muitas áreas antes cultivadas deram lugar a chácaras de recreio num primeiro momento, e essas, agora, dão lugar a condomínios.
É um crescimento perverso. Com mais bocas para alimentar, a cidade encolhe sua área de cultivo e passa a depender cada dia mais do que chega de fora, que é mais caro. Antigas pastagens hoje são recantos de luxo e suposta segurança. Esse crescimento reflete também na arrecadação de impostos – afinal, são mais pessoas pagando, e fazendo entrar dinheiro na Prefeitura, no Estado e na União.
A norma é o poder público (federal, estadual e municipal) devolver ao cidadão o que ele paga em forma de benefícios. Mas a cada ano esse encargo vem sendo empurrado às prefeituras. Até a iluminação pública agora está na conta de cada um. O Estado é relutante em iniciativas, e só se mexe com a política do bafo no cangote.
Ouve-se falar há anos, por exemplo, das alças de acesso da avenida Nove de Julho para a Via Anhanguera, assim como de novos viadutos sobre a mesma estrada. Tão negligente, o Estado entregou as estradas a empresas particulares, que nelas enxergam somente lucro, e nada de obrigações.
Todas cobram pedágio, mas não mexem uma palha para melhorá-las. A Anhanguera já está estreita demais, assim como a Bandeirantes, mas a Autoban não quer nem ouvir falar em gastar dinheiro nelas. A Colinas, dona da rodovia Dom Gabriel, extorque os motoristas com seu pedágio no bairro do Jacaré, em Cabreúva, mas não tem qualquer projeto de tornar a rodovia maior, onde também hoje não se anda. A Rota das Bandeiras, que cuida da João Cereser e da Constâncio Cintra, é exemplo de ineficiência – eficiente mesmo somente sua praça de pedágio.
Com problemas quase insolúveis, e com cada dia mais gente se mudando para Jundiaí, para desfrutar “a linda vista da Serra do Japi”, a cidade caminha para o colapso. Dentro de dez anos não haverá escolas e creches para todos, não haverá hospitais, não haverá ruas e estradas. E então os “novos jundiaienses” escolherão outra cidade para levar o caos.

Novo Dia
Novo Diahttps://novodia.digital/novodia
O Novo Dia Notícias é um dos maiores portais de conteúdo da região de Jundiaí. Faz parte do Grupo Novo Dia.
PUBLICIDADEspot_img

SUGESTÃO DE PAUTAS

PUBLICIDADEspot_img
PUBLICIDADEspot_img

notícias relacionadas