Um galpão que pertence à massa falida da antiga Litografia Araguaia está ocupada por jovens em busca de cultura
No dia seis passado, um grupo de jovens, membros da Casa Colaborativa, invadiu e ocupou um galpão abandonado há 20 anos, na rua XV de Novembro, na Vila Arens. A Casa Colaborativa existe há três anos em Jundiaí. O galpão, fechado após a mudança da empresa, teve outras atividades, mas acabou abandonado. Seu IPTU está atrasado desde 1996 – e a dívida seria de 250 mil reais.
A moçada estudou bem antes. Houve colaboração de outros grupos culturais da cidade, e todos apoiaram a idéia. Conversando com vizinhos do galão, moradores e comerciantes, resolveram que era a hora – todos aprovaram a ocupação, uma vez que o galpão era usado como abrigo de moradores de rua, viciados e assaltantes, além de se deteriorar com o tempo. A falta de movimentação no local favorecia a ocorrência de crimes e de prostituição.
Gustavo Koch, jundiaiense de 22 anos, é o articulador cultural do movimento e está diretamente envolvido na ocupação. “Organizamos vários grupos de trabalho independentes para prosseguir com as tarefas, diz ele. Temos um grupo jurídico, outro de comunicação, outro de gestão ambiental, for aos grupos de programação, captação de recursos e manutenção”.
Não falta tanta ajuda. Advogados e engenheiros estão contribuindo para a causa. “Os esforços seguem agora para as questões juríidicas e físicas do galpão”, afirma. O galpão teve parte de sua estrutura condenada devido aos muitos anos sem uso e a um incêndio. Mas já há problemas à vista – um advogado, representando os donos do imóvel, apareceu por lá e avisou que vai à Justiça pedir a reintegração de posse.
A moçada já tirou três caçambas de lixo e entulho do galpão – serão mais duas ainda. Os ocupantes estão recebendo doação de todos os tipos, desde materiais de construção a alimentos. Há também arrecadação pelo site bit.ly/vakinhaocupa. Há trinta pessoas pelo menos envolvidas na história. O galpão já foi visitado pela Guarda Municipal, pela Polícia Militar e pela Defesa Civil – ninguém fez represálias.
Os vizinhos estão contentes com isso. José Orlando Ferreira, motorista de 59 anos e morador há 15 no bairro, conta que a melhoria foi grande com a presença dos invasores. “Todos os vizinhos concordaram com a atitude de ocupar, diz ele. Muitos nóias ficavam escondidos no galpão e abordavam as pessoas que saíam da igreja ou da feira de domingo. Agora esse lugar recebeu um propósito”.
O porteiro Osvaldo Silva, de 58 anos, e sua esposa Maria Catarina Zucato, de 62, moram no bairro há 30 anos e se queixam do perigo de assaltos. “Estava virando esconderijo de bandido”, contaram. A própria filha já havia sido seguida por drogados enquanto voltava da feira. Para o agente operacional Benedito Célio de Oliveira, 59 anose morador do Jardim Tamoio, a ocupação acabou com o vandalismo. O galpão pegou fogo em 2013 e parte da frente desabou. Após isso a entrada foi lacrada, pois havia risco de desabamento.
Mesmo assim, usuários e moradores de rua abriram um buraco na parede atrás do prédio, onde fica hoje um estacionamento. Benedito, que trabalha no estacionamento das 7h às 12h, conta que já viu de tudo: jovens que fugiram de casa, usuários de outras cidades e moradores de rua, todos entrando no galpão. A principal mudança, segundo ele, é a limpeza. A proliferação de pragas urbanas era imensa.
Apesar dos desafios, o Ocupa Colaborativa continua com programação e está aberto para a comunidade e interessados em propor aulas, bate-papos, oficinas e espetáculos. O espaço fica aberto para visitação das 12h às 21h. Também é possível acessar a agenda e se inscrever para apresentações por meio de formulários disponíveis no grupo do Facebook, Ocupa Colaborativa.
