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sexta-feira, 26 abril, 2024

Eufemismos e neologismos

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A Língua Portuguesa continua sendo espancada, maltratada e estuprada diariamente. Boa parte da culpa cabe a jornalistas, normalmente alojados em assessorias de imprensa. Não se sabe se é para agradar o chefe. Ou se é para mostrar serviço com a arte de esticar as frases – quanto maior o texto, melhor. E sempre textos recheados com palavras impróprias para o contexto.

Tal sala foi inaugurada para proporcionar um conforto maior. Tudo errado. O que tal sala pode proporcionar é mais conforto. E não um conforto, uma vez que não existe dois ou três confortos. Fulano recebeu a todos com simpatia. Receber é verbo transitivo direto. Logo, fulano recebeu todos. Assim como ninguém convida a todos a participar… Convidar também é verbo transitivo direto.

Em um único ato, fulano fez isso. Um único? Redundância. Um e único dão na mesma. Até se aceita afirmar que tais carros (dois, três, ou quatro) são os únicos a ter tal potência. Bonito mesmo é ler que tal bairro será contemplado com uma praça. Contemplado, entende-se, se houvesse sorteio. Ou se alguém tivesse olhado muito tempo aquele bairro com admiração, com encantamento, com contemplação.

Termos estranhos surgem também todos os dias. Tal prefeitura ou tal empresa, vai oportunizar. Oportunizar? Não seria mais simples e objetivo afirmar que tal prefeitura ou tal empresa vai dar oportunidade? O mesmo se aplica a disponibilizar. O correto é tornar disponível. Para esticar o texto está valendo tudo.

Há quem divulgue que começaram as obras da restauração de tal prédio. Mais simples seria afirmar que começou a restauração. E quando escrevem que a verba é no valor de tantos reais? Não seria mais simples, prático e objetivo escrever que é uma verba de tantos reais? E, para esticar texto, vale tudo. Agora a moda é colocar abreviaturas após a descrição de entidade ou órgão público. Em todos.

Qual a origem de tanta asneira? Difícil uma conclusão. Começa pela má formação escolar, passa pela falta de leitura, pelo desinteresse geral e pela ignorância nata, muitas vezes. O jornalista Armando Nogueira, que morreu há nove anos, sempre afirmou que escrever é a arte de economizar palavras.

Citava como exemplo o vendedor de peixes que tinha uma barraca à beira de um rio. E na barraca colocou uma placa: Vende-se peixe fresco. O primeiro cliente o alertou que não precisa escrever vende-se. Estava implícito – ninguém dá peixe. A palavra foi apagada. O segundo cliente o alertou que não precisa estar escrito que o peixe era fresco. À beira de um rio, era óbvio. A palavra foi apagada. E um terceiro cliente disse que não precisava escrever que era peixe. Todo mundo via que o que estava à venda era peixe.

Essa lição parece ter sido esquecida. Modismos sempre existirão. Alguns duram muito tempo, outros nem tanto por sua insignificância. Plugado foi um termo usado para designar que alguém estava atento, ligado, a determinado assunto. Como plug é tomada, o termo foi abandonado por razões óbvias. O mesmo aconteceu com antenado, também por razões óbvias.

Uma previsão otimista é que levaremos mais de cem anos para chegarmos a um nível razoável. Muito otimista a previsão. Melhor nos contentarmos com a realidade. Quem nasce para ser jumento jamais será leão.

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