Nos dias de hoje pouca gente ainda usa guarda-chuva. E quem usa costuma esquecê-lo em algum lugar, principalmente se tiver parado de chover. Guarda-chuva é coisa pra homem, combinado? Mulheres usam sombrinha. Mas sombrinha é para fazer sombra. Talvez por isso sejam tão minúsculas. A maioria, dobrável. Cabem numa bolsa.
Mães de outrora aconselhavam os filhos a levar guarda-chuva sempre que sentiam que iria chover. Molhar-se na chuva, diziam elas, traz resfriados, gripe e tosse. Mas então criaram a capa de chuva. Estilosas e modernosas, que não deixavam molhar a roupa com a chuva. Molhavam a roupa pelo suor que produziam em quem as vestisse. As capas de chuva praticamente desapareceram. Só aparecem em bancas de camelôs em tempos como os de agora.
Simples e descartáveis. Transparentes, baratas e quase inúteis. E este seria um bom assunto para esses institutos que fazem pesquisas inúteis – o que você prefere? Capa de chuva, guarda-chuva ou sombrinha? Muitas mulheres preferirão guarda-chuva, pela simples razão de com ele poderem se defender de algum homem mais ousado. Se é que existem homens. Ousados, quem sabe?
Em 50 anos, o mundo mudou demais. Não foi culpa de Mary Quant, que inventou a mini-saia. Nem dos laboratórios, que criaram a pílula anticoncepcional. Nem de Von Braun, que criou o foguete Saturno que levou o homem à Lua. E de quem seria essa culpa?
De nós mesmos. Que fomos aceitando tudo passivamente. Aos poucos, mas aceitando. Engolimos filmes horríveis na TV nos anos 1970 e 1980. Continuamos aceitando-os até hoje. Entendemos ser bonito usar a mesma roupa que atores e atrizes usam em novelas – por sinal, também aceitamos as novelas. Ouvimos de muita gente que estudar era perda de tempo – e muitos acreditaram. No final, nos emburrecemos.
Um dito popular afirma que todos os dias nascem um otário e um esperto, e que quando se encontram dá negócio. É verdade. Nós somos os otários. Há muito esperto ganhando em cima de nossa burrice, que nos faz acreditar em dietas milagrosas de emagrecimento, em tratamentos de beleza e nos milagrosos produtos anunciandos no Polyshop.
A consequência desse emburrecimento está ao nosso redor, bem perceptíveis. TVs ligadas em programas do mundo cão, mostrando assaltos, estupros e homicídios; novelas que enaltecem o incesto, a traição, a aventura; filmes que gastam mais munição em tiroteios de rua que uma guerra mundial; carros que se incendeiam e explodem, sem que seus ocupantes, os heróis, sofram um arranhão. Somos nós que damos audiência à porcaria que chega pela TV.
Somos nós que acreditamos em liquidações, em promoções, em sorteios. Somos nós que acreditamos em promessas do horário eleitoral; somos nós que bajulamos os tais homens públicos, que de públicos não têm nada. Somos nós, também, que damos trela à conversa de gêneros. Antes era só GLS, hoje LGBT+ (e esse + é quase infinito).
Precisamos voltar a usar guarda-chuva. Um modelo mais forte, mais resistente. E lembrar dos sábios conselhos de nossas mães, todos os dias. Leva guarda-chuva meu filho! Leva mesmo. Do jeito que estão as coisas logo vai chover cocô.