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sexta-feira, 29 março, 2024

O vírus não sabe ler

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O presidente assinou decretos; o governador assinou decretos; os prefeitos assinaram decretos. E o vírus os ignorou. Continuou, como qualquer ignorante, fazendo duas suas. O vírus não sabe ler. E se não sabe ler, não irá embora por decreto.

Parece que muita gente não entendeu isso ainda. Na segunda-feira, 1º de junho, primeiro dia da flexibilização da quarentena em Jundiaí, as ruas centrais ficaram lotadas. Não faltaram aglomerações, abraços de velhos conhecidos, beijinhos de comadres que há tempos não se viam, como se o vírus já tivesse sido deportado de volta à China. Muita gente sem máscara. Muita gente recusando o álcool em gel oferecido por lojas para higienizar as mãos.

Pessoas tão ignorantes quanto o vírus aplicando a máxima da lei da vantagem: somos brasileiros, ninguém pode conosco. Nem o vírus. Isso é o que vamos ver daqui a algum tempo. A Organização Mundial da Saúde afirmou na mesma segunda-feira que o pico da pandemia ainda não aconteceu no Brasil. Traduzindo: até agora foi só refresco, logo vem a pimenta.

Essa falta de consciência, produto da ignorância, é a maior responsável pela disseminação da doença. O vírus não leu os decretos, nem vai embora porque somos brasileiros. Mas esse mesmo vírus encontrou aqui um ambiente receptivo, camarada, gentil. O vírus está sendo acolhido como fosse um dos nossos, um parente distante, um amigo.

Nessa toada, aparecem novas perguntas e possíveis respostas. Uma delas – por que somos tão ignorantes? Vamos arriscar. Temos um sistema de ensino falido, sucateado, com currículo fora da realidade. Um arremedo de ensino, que prega que basta saber assinar o nome. Ou desenhor o nome. Temos professores mal preparados, mal pagos.

Temos dirigentes de ensino tão ignorantes quanto os dirigidos. E temos alunos que não estudam, não aprendem, não dão a mínima para uma situação de perigo.

Dirigentes são em sua maioria indicados por acordos políticos. Não é levada em conta sua capacidade, seu mérito. Basta estarem alinhados com quem manda. Professores desistem de dar aulas porque são agredidos em salas e fora delas. Bem entendido, agredidos por alunos e por seus pais. O currículo poderia ter sido escrito em papiros, tamanha sua inutilidade.

E alunos são fruto de famílias mal arranjadas, sem qualquer harmonia, sem qualquer compromisso com o futuro de seus rebentos. Não há valores a serem seguidos. Nâo há solidez em relacionamentosw – vive-se como um animal em época de cio. Um cio quase infinito, que produz novos ignorantes.

E quando tudo estiver quase perdido, talvez arrumemos alguma desculpa. Talvez achemos algum culpado, contanto que não sejamos nós. Por enquanto, podemos estender faixas em nossas ruas comerciais: Senhores ignorantes, sejam todos bem vindos ao nosso inferno. Todos poderão lê-las. O vírus não as lerá, mas continuará fazendo novas vítimas.

ANSELMO BROMBAL
Jornalista

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