O PSDB, um dos partidos mais influentes da política brasileira nas últimas décadas, encontra-se em uma encruzilhada que pode definir seu futuro. Com um desempenho eleitoral pífio em 2024, a legenda enfrenta discussões intensas sobre fusão, incorporação ou ampliação da federação partidária com o Cidadania. No centro desse debate está a preservação de sua identidade e legado, ao mesmo tempo em que busca meios para continuar relevante no cenário político nacional.
As negociações para uma incorporação ao PSD esfriaram nos últimos dias. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, deixou claro que a sigla prefere uma incorporação, o que levaria ao fim da existência do PSDB como partido independente. No entanto, há forte resistência interna entre os tucanos, que ainda veem alternativas para evitar a dissolução. Uma delas é a ampliação da federação já existente com o Cidadania, incluindo outras siglas como Podemos, PDT ou Solidariedade. Essa saída permitiria maior autonomia e evitaria a extinção do partido, diferentemente da incorporação.
A queda do PSDB nos últimos anos é inegável. O partido, que governou o Brasil por oito anos com Fernando Henrique Cardoso e administrou estados estratégicos como São Paulo por décadas, vem perdendo força. Em 2024, elegeu apenas 276 prefeituras, 259 a menos que em 2020. No Senado, caiu de seis para três representantes. Na Câmara dos Deputados, reduziu sua bancada de 29 para apenas 13 cadeiras. Esses números refletem a perda de espaço para outras forças políticas, especialmente a ascensão do centro-direita representado pelo União Brasil e PSD.
Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB, reconhece os erros do passado e a necessidade de reposicionar o partido. Ele afirma que a sigla está menor devido a equívocos estratégicos e à longevidade do modelo tucano, que perdeu apelo diante do eleitorado. Apesar disso, defende que a legenda tem um legado histórico e uma identidade que não podem ser descartados. Segundo Perillo, qualquer decisão só será anunciada em março, após um período de intensas consultas internas e articulações externas.
Outro fator importante no debate é o impacto de uma fusão ou incorporação para os políticos que ainda permanecem na legenda. Pela legislação eleitoral, uma incorporação permitiria que deputados, senadores e prefeitos tucanos deixassem o partido sem perder seus mandatos, aproveitando uma “janela partidária” especial. Essa possibilidade pode influenciar diretamente os rumos do PSDB, já que um dos três governadores tucanos já estaria pronto para migrar para o PSD, independentemente da decisão final.
Diante desse cenário, o futuro do PSDB ainda é incerto. As opções estão postas à mesa: seguir sozinho, ampliando sua federação; unir-se a outro partido por meio de fusão e criar uma nova legenda; ou aceitar a incorporação, encerrando sua trajetória política de forma independente. O desfecho deve ser anunciado em março, mas independentemente da escolha, o partido precisará reinventar-se para recuperar sua relevância e evitar o destino de tantas outras siglas que se tornaram apenas notas de rodapé na história política brasileira.
Rodrigo Malagoli é diretor do Grupo Novo Dia, vice-presidente da Associação de Tecnologia e Inovação de Jundiaí e presidente municipal do Mobiliza 33