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segunda-feira, 9 junho, 2025

“Eu vi com meus próprios olhos” já não significa mais nada: a nova era da mentira perfeita

Estamos vivendo um momento decisivo da história da humanidade — e talvez ainda não tenhamos nos dado conta do tamanho da encruzilhada. A inteligência artificial generativa está criando uma nova realidade onde tudo pode ser fabricado: imagens, áudios, textos… e agora, vídeos que imitam com perfeição rostos, vozes e gestos humanos.

Parece cena de filme futurista, mas é o agora. Deepfakes, vídeos hiperrealistas gerados por IA, estão cada vez mais fáceis de fazer e difíceis de detectar. Com um simples comando de texto, qualquer pessoa pode gerar uma fala convincente na boca de qualquer figura pública — mesmo que essa fala nunca tenha existido.

Nas eleições, isso representa um risco brutal.

Em um país polarizado como o Brasil, onde as emoções falam mais alto que os fatos, basta um vídeo falso viralizando no WhatsApp para virar voto. Para destruir reputações. Para criar escândalos que não existiram.

Em 2023, o Center for Countering Digital Hate alertou que 78% dos vídeos deepfake espalhados na internet tinham conteúdo político ou pornográfico. A mesma pesquisa apontou que menos de 1 em cada 10 pessoas consegue identificar um vídeo falso sem ajuda de ferramentas.

No mesmo ano, a Bélgica enfrentou uma crise institucional quando um vídeo manipulado com IA mostrava o primeiro-ministro anunciando medidas impopulares. O vídeo era falso — mas gerou protestos reais. Na Eslováquia, dias antes da eleição de 2023, um áudio gerado por IA com vozes de opositores supostamente tramando fraudes circulou nas redes sociais. O conteúdo era falso. O estrago foi real.

E o Brasil está pronto para isso?

A resposta, infelizmente, é não.

Nossa legislação eleitoral tenta se adaptar, mas está anos-luz atrás da velocidade das ferramentas tecnológicas. Não há aparato técnico suficiente no TSE para barrar vídeos falsos antes que viralizem. As plataformas, como já vimos em outras eleições, demoram para agir — ou se omitem.

E nós, eleitores, estamos ainda mais despreparados. Não fomos ensinados a duvidar. Fomos educados para acreditar naquilo que vemos — e esse é exatamente o ponto de ruptura da nova era.

A pergunta agora é: o que será da democracia quando não soubermos mais o que é verdade?

A saída passa por três frentes urgentes:

Regulação inteligente e ágil – Não podemos permitir que a IA seja usada para manipular eleições sem consequências. Países como a China, a União Europeia e os EUA já estão discutindo leis específicas para deepfakes. O Brasil precisa acelerar esse debate com urgência.

Tecnologia contra tecnologia – Empresas e governos devem investir em ferramentas de detecção de conteúdo sintético. Já existem algoritmos que analisam padrões digitais para identificar vídeos gerados por IA. Essas ferramentas precisam estar nas mãos da Justiça Eleitoral, da imprensa e até do cidadão comum.

Alfabetização midiática como política de Estado – A principal defesa contra a mentira será sempre o pensamento crítico. É hora de ensinar crianças, jovens e adultos a questionar, a investigar, a confirmar antes de compartilhar. Isso vai muito além de combater fake news — é sobre preparar o cérebro para sobreviver em um mundo onde o falso será cada vez mais convincente.

Se você chegou até aqui, entenda: o mundo mudou. E não haverá alerta sonoro quando a mentira bater à sua porta.

Ela virá com rosto conhecido, voz familiar, olhos sinceros — e será gerada por código.

Não é mais sobre o que você vê. É sobre o que você escolhe acreditar.

E essa escolha precisa ser consciente. Antes que seja tarde demais.

Rodrigo Malagoli
Rodrigo Malagolihttps://www.rodmalagoli.com
Rodrigo Malagoli é empreendedor na área de comunicação e tecnologia. Proprietário do Grupo Novo Dia, Cena Blue Digital Signage e Focus Midia Digital. Está a frente do projeto social ONEMug, é co-founder do Grape Valley, comunidade de inovação de Jundiaí e vice-presidente da Associação de Tecnologia e Inovação de Jundiaí, a ATIJ. MTB 72345/SP

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